segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Fotos na casa de Gigi (Josineide Dantas)

Josineide Dantas, Gigi (como gosta de ser chamada) é uma poetisa de cordel que aborda em suas poesias temas sociais, por isso, é titulada como poetisa do absurdo, a poetisa marginal que vê o cordel como uma forma de repudiar o sistema.

Gigi, Fala que a mulher ainda sofre preconceitos. A mulher conquistando espaço e colocando o homem num patamar menor que o dele é uma ofensa a ele. No cordel o preconceito é por ser mulher cordelista, poetisa popular. Como resposta ao preconceito escreveu um cordel depreciando de certa forma o homem e exaltando a mulher. " Lampião vai buscar Maria Bonita no inferno".

"No nordeste a Literatura de Cordel é uma presença e passou a ser valorizada por outros estados brasileiros como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Porque os meios de comunicação atuais estão contribuindo para maior divulgação da Literatura de Cordel e os estudos acadêmicos despertam interesse por essa literatura, tornando-a cada vez mais popularizada. Além disso, o Ministério da Cultura promoveu o Prêmio Mais Cultural de Literatura de Cordel /2010 – Edição Patativa do Assaré que tem como ação o incentivo do cordel. A Literatura de Cordel, na França, é disciplina obrigatória na grade curricular" (GIGI, 2010).

Gigi Estava recitando uma poesia de cordel do seu livreto Mulheres Guerreiras Decantadas em Cordel. Um trecho do cordel:

Sexo frágil a mulher?
Veja quem nos representam
Olga Benário, Maria da Penha
Benedita da Silva nos atentam
Como as mulheres e Aterias
Guerreiras que nos contentam

Ainda na revolução
Vou seguindo o meu temário
Pra falar da heroína
A famosa Olga Benário
Guerreira desde menina
Orgulho desse cenário

E a jovem comunista
Revolucionária com diz
E muito comprometida
Com a história aprendiz
Que trazia um ideal
De um povo livre e feliz

"Toda vez que eu declamava as pessoas diziam que era cordel e eu na verdade não sabia que aquilo era cordel. Foi quando eu resolvi estudar a origem do cordel, como e onde ele surgiu. Nos estudos descobri que ele surgiu na França, no século XVI, e que Shakespeare era um grande cordelista. O 1º(primeiro) poema era chamado poema da humanidade. O cordel que faz parte da cultura do nordeste foi trazido pelos franceses, pelo rei Henrique V e pelos holandeses e portugueses. Os franceses apresentavam teatros luxuosos, peças chiques enquanto outros povos apresentavam nos porões dos navios enquanto ancorados, papiros e folhas soltas. Quem escrevia cordéis eram pessoas autodidatas, ou seja, não sabiam ler e nem escrever. O Sr. Manoel de Almeida Lima, o Sr. João Firmino e o Sr. João Sapateiro eram cordelistas autodidatas, não haviam frequentado à escola. As pessoas tinham uma curiosidade de ler o pavão misterioso e a princesa de perna fina que eram cordéis muito famosos e comentados pelo povo naquela época" (GIGI, 2010).

"No começo eu pegava o cordel de Manoel de Almeida Lima Filho para analisar a rima, a métrica, a estética, pois o cordel é muito rígido na sua forma, não pode fugir da temática, jamais pode existir o “mas”, pois quebra toda a métrica, oração e não é considerado um cordel legítimo" (GIGI, 2010).

"O cordel firmou na minha vida quando Ilma Fontes me convidou para eu mostrar meus trabalhos. Mas, quem me lançou como cordelista foi Zé Antônio. E em Aracaju, Izabel Cristina é considerada como ícone do cordel. Em Sergipe há a 63ª casa do poeta do Brasil. A primeira casa é a de Ilma fontes que é a diretora. Atualmente há quatro cordelistas mulheres na Academia Brasileira entre elas, Izabel Cristina [filha de Pedro Amaro(cordelista)], Salete (professora que tem o projeto “o cordel vai à escola)"(GIGI, 2010).



"Uma parte importante do cordel é a xilogravura. Quem faz tem que ter muito talento, pois exige muita técnica, uma vez que tem que expressar na capa toda a história do cordel. O xilogravurista faz diversos desenhos até chegar à xilogravura almejada. A exemplo do cordel Zumbi o herói negro, eu quem criei a xilogravura, pois queria um zumbi menino e ao mesmo tempo homem, para retratar que era guerreiro eu fiz umas lanças e como sofredor desenhei traços de maus tratos no rosto e como era um homem bom eu desenhei uma áurea ao redor da cabeça indicando que era uma pessoa iluminada que se preocupava com o outro" (GIGI, 2010).

Josineide Dantas, gigi, filha de índios Tupinambá, nasceu na cidade de Propriá-SE. É militante e atuante dos movimentos populares desde a década de 80, atualmente participa de movimentos negros, lutando contra o preconceito racial, movimentos de mulheres, movimentos artísticos e culturais, educadora popular, técnica em saúde pública, e militante sindical.

Gigi descobriu Zumbi dos Palmares, que serviu de inspiração para escrever o livro “O Sonho da Igualdade Racial no Silêncio das Palavras”. O livro Zumbi dos Palmares conta a história do movimento negro do estado de Sergipe.

"A Literatura de Cordel tem toda importância na cultura popular brasileira. Eu tiro o chapéu, a coroa para o cordel. A Literatura de Cordel é um patrimônio histórico. Ela tem grande importância na cultura popular brasileira. E, através da poesia de cordel o cidadão conhece a história de seu estado, país, pois, no cordel tem muitos temas que fala de cultura, cotidiano, da realidade do povo. A cultura popular em geral tem chegado a outros países. Ilma Fontes (sou fã) que é dona do jornal “O Capital”, tem revistas no Japão, nos Estados Unidos e na China. Ela leva toda a história dos poetas, a cultura de Sergipe para o mundo, eu a tenho como um patrimônio cultural". (GIGI, 2010).

Como poetisa foi homenageada junto a outras poetisas no evento: o poeta, o vinho e o violão, no mês da mulher. Através do mesmo projeto, foi homenageada no dia da consciência negra (2007) pela contribuição à cultura sergipana. Recebeu votos de congratulação por participar do Coletivo de Artistas Afro Descendentes do Novembro Negro.

Atualmente é sócia, fundadora da POEBRAS (Casa do Poeta Brasileiro) seção Aracaju, foi eleita diretora de comunicação da ASCORESE (Associação Sergipana dos Cordelistas e Repentistas de Sergipe).

Flávia, Ângela, Josineide (Gigi), Mara e Keidy.

"A Literatura de Cordel é de fundamental importância na educação. Os meninos não gostam de ler e o cordel estimula a leitura, é de fácil entendimento, os livretos são curtos o que contribui para os alunos despertarem a ler cada vez mais e ingressando em novos elementos literários. As professoras da rede estadual levaram para as escolas o cordel. Os alunos leram o livreto na sala de aula e nos corredores da escola. Uma professora deu uma aula sobre Zumbi dos Palmares e que os alunos aprenderam melhor do que se pegasse um livro. (depoimento da professora ). Na rede municipal a Literatura de Cordel faz parte do conteúdo" (GIGI, 2010).

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